A apresentação feita pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ontem na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, provocou movimentos opostos para as projeções de juros nos contratos negociados na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Enquanto as taxas estimadas pelo mercado para o curto prazo cederam, aquelas de mais longo prazo subiram.
As taxas projetadas nos contratos com vencimento em janeiro de 2013 (o DI janeiro/2013) cederam de 7,31% para 7,30%; as taxas do DI janeiro/2014 passaram de 7,79% para 7,77% ontem. Mas as taxas do DI de janeiro de 2017 foram no sentido oposto, subindo de 9,11% para 9,16%.
O mercado deu destaque aos trechos em que o presidente do BC considerou o atual choque de oferta das commodities de curto prazo, e à avaliação de que os cortes de preços no setor elétrico terão impacto "significativo, expressivo".
"Medidas como desonerações ajudam a inflação no curto prazo, mas o mercado se pergunta se isso vai continuar funcionando no longo prazo quando as pressões inflacionárias voltarem com força e a economia recuperar o fôlego de crescer 4% ao ano", disse o gerente de gestão de investimento da Lecca, Georges Catalão.
O economista da LCA, Fabio Romão, vai na mesma linha e pondera que as medidas de desoneração tomadas pelo governo federal tornam o horizonte de previsibilidade para a inflação mais complexo. "Se o risco associado ao cenário da inflação aumenta, o risco associado a operações prefixadas aumenta também. Os prêmios de alongamento tendem a subir daqui em diante em consequência desta combinação singular de efeitos sobre a inflação que desconhece paralelo no nosso regime de metas".
Essa maior incerteza ganhou corpo na BM&F por meio de uma maior diferença entre os juros projetados para o curto prazo e as taxas esperadas para o longo prazo. A diferença entre a taxa para janeiro de 2017 e a de janeiro de 2014 subiu de 1,32 para 1,39 ponto percentual entre terça-feira e ontem - o maior degrau desde 29 de agosto.