Sergio Lamucci
O resultado melhor do que o esperado do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, com o desempenho razoável do consumo das famílias, reduz as chances de um ciclo de cortes mais agressivo dos juros neste ano, acreditam alguns analistas. A expectativa é de que os cortes devem continuar por mais um tempo, mas a possibilidade de que a taxa Selic encerre 2009 próxima de 8% ao ano diminuiu bastante. Hoje, os juros estão em 10,25% ao ano.
Para a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, o resultado do PIB tende a mudar a percepção da parcela do mercado que esperava um ciclo mais longo e mais forte de queda da Selic. O consumo das famílias, diz ela, mostrou uma resistência maior do que a projetada pelos analistas. Segundo Thaís, o número do PIB reforçou a sua aposta de que os juros terminarão o ano em 9,25%, com um corte de 0,75 ponto percentual na reunião de hoje e um de 0,25 ponto no encontro seguinte. "Ainda há espaço para mais cortes de juros, mas o BC deve optar por uma estratégia mais gradual de redução da Selic", afirma ela, que espera a manutenção da taxa em 9,25% ao longo de todo o ano que vem.
O estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, diz que o PIB do primeiro trimestre afastou os temores de que o tombo na indústria e o aumento do desemprego pudessem provocar uma retração mais estrutural do consumo. "O resultado mostrou sinais de estabilização da demanda", afirma ele, para quem o número tira dos ombros do Banco Central (BC) a pressão para tomar decisões emergenciais.
Para Lintz, a autoridade monetária deverá optar por fazer cortes mais graduais, para estender o ciclo de redução por mais tempo. Lintz projeta uma Selic de 9,25% no fim deste ano e de 8,25% no fim do ano que vem - para o encontro de hoje, ele acredita numa queda de 0,5 ponto. "É pior cortar muito agora e ter que subir a taxa depois, porque isso cria volatilidade também para a atividade econômica."
O economista-chefe do JP Morgan, Fábio Akira, aposta numa desaceleração do ritmo de cortes dos juros principalmente por conta de fatores que ocorreram depois do primeiro trimestre. Ele cita a redução da aversão global ao risco, a melhora do crédito local, a recuperação do consumidor e dos empresários e o fato de que a inflação de serviços continua relativamente pressionada. Nesse quadro, avalia Akira, o número do PIB no primeiro trimestre serviu mais como uma indicação de que a economia começou a se recuperar no segundo com uma folga menor de recursos do que supunham alguns analistas.
Projetando uma Selic de 9% no fim do ano, Akira relativiza o impacto da valorização do câmbio sobre a inflação. "O dólar está em queda, mas os preços das commodities estão em alta", afirma ele. Desse modo, o câmbio apreciado não é um grande refresco para a trajetória inflacionária como já foi em outras épocas.
O economista-sênior da Itaú Corretora, Maurício Oreng, tem uma visão mais otimista quanto à trajetória da política monetária. Como a maior parte do mercado, ele foi surpreendido pelo desempenho do PIB, em especial do consumo das famílias, mas diz que ainda há muita capacidade ociosa na economia, em especial na indústria. "O PIB do primeiro trimestre mostrou que pode haver uma sobra um pouco menor de recursos, mas a folga ainda é bastante grande", diz ele, que aposta em juros de 8,25% no fim deste ano. Oreng espera um corte de 1 ponto no encontro de hoje do Comitê de Política Monetária, e mais dois de 0,5 ponto neste ano.